segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Da poeta ELISA LUCINDA, no livro "O Semelhante".



ADOÇÃO

Não sei se te contei
mas há algum tempo sou minha
me adquiri num mercado
onde o escambo era da posse pela liberdade
me obtive numa dessas voltas da morte
me acolhi num desses retornos do inferno.
Dei banho, abrigo, roupas, amor enfim.
Adotei o meu mim
como quem se demarca e crava em si o mastro da terra à vista
a cheiro, a tato, a trato, a paladar e ouvido.
Não sei se te contei
me recebi à porta da minha casa
abracei, mandei sentar
Abracei eu mesma, destranquei a porta
que é preu sempre poder voltar.
Dei apenas o céu à sua legítima gaivota
Somos a sociedade
e ao mesmo tempo a cota
Visita e anfitriã
moram agora num mesmo elemento
juntas se ancoram
na viagem das eras
No novelo do umbigo
No embrião do centro
No colo do tempo. 

2 comentários:

  1. Noossssaaa!Posso tomar emprestado para o Indecentes palavras?
    Achei muito bom, um registro da falta que faz darmo-nos a nós mesmos, para começar.
    beijo grande
    adriana bandeira

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  2. Pois é, Adriana, o carinho e a atenção que se pode (e se deve) dar a nós mesmos.

    Claro que podes tomar emprestado. Poema de Elisa Lucinda.

    Beijo,
    Cris

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