domingo, 24 de julho de 2011

SYLVIA PLATH E TED HUGHES



Em 1998, o poeta inglês Ted Hughes quebra um silêncio de 35 anos, e lança Birthday Letters, Cartas de Aniversário na edição bilíngue lançada pela Record no ano seguinte, com tradução de Paulo Henriques Britto. É um livro de poemas dedicado à sua ex-mulher, a também poeta (norte-americana) Sylvia Plath, que, aos 30 anos, em 1963, suicidou-se em Londres, deixando dois filhos pequenos, Frieda e Nicholas. Na época, o casal já tinha se separado, porque Ted estava tendo um caso com Assia Wevil.

Os poemas como que dialogam com Sylvia (ou com seu fantasma), e sobre o livro Ted Hughes diz: "Escrito sem planejamento ao longo de 25 anos, este é um livro no qual eu tentei estabelecer um contato direto, privado, íntimo,com minha primeira mulher, não pensando em fazer um poema, mas principalmente pensando em evocar sua presença e senti-la ali, escutando."


 THE MINOTAUR

 The mahogany table-top you smashed
Had been the broad plank top
Of my mother's heirloom sideboard - 
Mapped with the scars of my whole life.

That came under the hammer.
The high stool you swung that day
Demented by my being
Twenty minutes late for baby-minding.

"Marvellous!" I shouted. "Go-on,
Smash it into kindling.
That's the stuff you're keeping out of your poems!"
And later, considered and calmer.

"Get that shoulder under your stanzas
And we'll be away." Deep in the cave of your ear
The goblin snapped his fingers.
So what had I given him?

The bloody end of the skein
That unravelled your marriage,
Left your children echoing
Like tunnels in a labyrinth,

Left your mother a dead-end,
Brought you to the horned, bellowing
Grave of your risen father -
And your own corpse in it.



O MINOTAURO

A mesa de mogno que você quebrou
Era o tampo largo do aparador
Que minha mãe havia herdado -
Mapa de riscos de toda a minha vida.

Foi isso que você martelou
Com um banco alto aquele dia,
Enlouquecida por eu estar vinte minutos
Atrasado para cuidar da criança.

"Maravilhoso"! gritei. "Isso mesmo,
Quebre tudo em pedacinhos.
Isso você não põe nos seus poemas!"
Depois, consciente, mais calmo,

"Ponha no ombro essas estrofes
E vamos." No fundo da gruta do seu ouvido
O gnomo estalou os dedos.
O que lhe dera eu, afinal?

A ponta sangrenta da madeixa
Que desenredou o seu casamento,
Deixou os seus filhos ecoando
Como túneis de um labirinto,

Deixou a sua mãe num beco sem saída,
Levou você ao touro enfurecido
Da tumba do seu pai ressuscitado -
E deixou-a morta lá dentro.
 

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