sexta-feira, 29 de julho de 2011

interrompido

Este conto é de minha autoria, e foi publicado no livro "Arca Profana", Território das Artes Editora, Porto Alegre, 2010.



Tomou outro gole daquele tinto, deu uma tragada no cigarro dele e pensou: quero este homem.

Quando, naquela manhã, o vira na praia, seu corpo tremera um pouco. Tipo amor à primeira vista ou paixão arrebatadora, qualquer coisa assim.

Os dois se aproximaram, começando o bate-papo. Depois de alguns minutos, sentaram-se juntos na areia, próximos um do outro. Ela sentia a presença daquele homem quase como se a tocasse. Ele era naturalmente sedutor.

Depois de várias horas e vários banhos de mar, a conversa não esmorecera, tendo enveredado para assuntos pessoais. Bem pessoais. Ela estava enfeitiçada.

Quando o sol foi embora, eles decidiram fazer o mesmo, porém, juntos. Foram para o apartamento dela, ali perto.

Ele abriu o vinho. Começaram a sorvê-lo devagar, deleitando-se com a bebida e, mais ainda, deleitando-se um com o outro. O desejo irrompia nos olhos abrasados, nas bocas úmidas, nos corpos lânguidos.

E aí, volto à primeira linha desta história: "tomou outro gole daquele tinto, deu uma tragada no cigarro dele e pensou: quero este homem!". Abriu os braços e ele a enlaçou com força. Beijaram-se. Ela o atirou na cama: gostava de amores violentos. Ele entrava no seu jogo. Rolaram feito loucos e, feito loucos, começaram a se despir. Reconhecimento dos corpos. Entrelaçamento. Nossa, pensou ela, romântica e passional, acho que este é o homem da minha vida.

As mãos percorriam os corpos, os lábios cerravam as bocas e escorregavam pelos pescoços, peitos, coxas. A janela aberta deixava entrar o alarido da rua.

No instante em que o corpo dele a penetrava, ouviu o estampido. Bala perdida.

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