terça-feira, 12 de julho de 2011

CECÍLIA MEIRELES, em "Viagem" (1939)



MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,                                               - não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo.                                                  

Sei que canto. E a canção é tudo.           
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

































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