quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Pablo Neruda







VINTE POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA
(1923-1924)
                                                                                        


OS VINTE POEMAS

1

Corpo de mulher, brancas colinas, coxas brancas,
pareces com o mundo na tua atitude de entrega.
Meu corpo de lavrador selvagem te escava
e faz saltar o filho do fundo da terra.

Fui sozinho como um túnel. De mim fugiam os pássaros,
e em mim a noite entrava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver-me te forjei como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra na minha funda.

Mas cai a hora da vingança, e te amo.
Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah tua voz lenta e triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!
Escuros canais onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.



                                                                                     (Tradução de Eliane Zagury)

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