PROCURA
Eu fui buscar em teu corpo
amoras recém-colhidas.
Restou, ardendo nos lábios,
um áspero gosto de vida.
Eu quis deixar em teu corpo
as marcas do meu desejo.
Se estendo as mãos, não alcanço.
Se fecho os olhos, não vejo.
Em teu corpo eu procuro
o desvario dos sentidos.
Por vales e montanhas
venta o vento teus gemidos.
Queria porque queria
desvendar os teus segredos.
A noite me diz: é tarde.
As nuvens respondem: é cedo.
Eu sempre pensei teu corpo,
um veleiro sobre as ondas.
Se ouso gritar teu nome,
talvez o eco responda.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, em "Alguma Poesia".
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
HILDA HILST, em "Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão".
ÁRIAS PEQUENAS PARA BANDOLIM
XI
Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez em minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores
Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
XI
Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez em minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores
Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Lançamento de Ferreira Gullar, em 2010: EM ALGUMA PARTE ALGUMA
O QUE SE FOI
O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.
Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.
Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.
Então por que me faz
o coração bater tão forte?
O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.
Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.
Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.
Então por que me faz
o coração bater tão forte?
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
Na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre/ Novembro de 2010
Sessão de autógrafos do jornalista, escritor e poeta Adroaldo Bauer. O livro é "O Império Bandido". Na foto, Adroaldo e eu.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
THEODEMIRO TOSTES (1903-1986)
BOCA
Purpúrea boca, lúbrica e purpúrea,
onde o sorriso é um pálido lampejo,
taça em que ferve o vinho da luxúria,
flor que se esquiva à abelha do meu beijo...
Eu sinto em ti o eterno anseio, a fúria
de prazeres eróticos, eu vejo
na tua curva lúbrica e purpúrea
toda a tortura lenta do desejo.
Eu vejo a angústia do faminto
nas contorções da fome, e sinto
a longa história do suplício teu...
Gemidos, ânsias incontidas,
frases de amor não proferidas,
beijos ardentes que ninguém colheu...
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
JÚBILO, MEMÓRIA, NOVICIADO DA PAIXÃO, de Hilda Hilst
O POETA INVENTA VIAGEM, RETORNO,
E SOFRE DE SAUDADE
IX
Debruça-te sobre a tua casa e a tua mulher
E pergunta no mais fundo de ti, no teu abismo,
Se é maior teu espaço de amor, ou maiores
Que o céu esses rigores, a ti te proibindo
Tua amiga incorporada ao teu próprio destino.
Do máximo e do mínimo e a meu favor
(Não me louvando a mim o raciocínio)
Ressurgiria um conceito didático, exemplar:
De que não cabe medida se se trata
Dessa coisa incontida que é o amor.
O coração amante se dilata. O preconceito?
Um punhado de sal num mar de águas.
E SOFRE DE SAUDADE
IX
Debruça-te sobre a tua casa e a tua mulher
E pergunta no mais fundo de ti, no teu abismo,
Se é maior teu espaço de amor, ou maiores
Que o céu esses rigores, a ti te proibindo
Tua amiga incorporada ao teu próprio destino.
Do máximo e do mínimo e a meu favor
(Não me louvando a mim o raciocínio)
Ressurgiria um conceito didático, exemplar:
De que não cabe medida se se trata
Dessa coisa incontida que é o amor.
O coração amante se dilata. O preconceito?
Um punhado de sal num mar de águas.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA, em Poesia Reunida (1965-1999)
ARTE-FINAL
Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.
O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.
Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
- quem toma uma por outra
confunde e mente.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
PABLO NERUDA
VEINTE POEMAS DE AMOR Y UNA CANCIÓN DESESPERADA
(1923-1924)
1
Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.
Fuí solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha em mi arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.
(1923-1924)
1
Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.
Fuí solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha em mi arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
MARIO BENEDETTI
O SILÊNCIO DO MAR
e o silêncio do mar, e o de sua vida
José Hierro
O silêncio do mar
brama um juízo infinito
mais concentrado que o de um cântaro
mais implacável que duas gotas
quer aproxime o horizonte ou nos entregue
a morte azul das medusas
nossas suspeitas não o deixam
o mar escuta como um surdo
é insensível como um deus
e sobrevive aos sobreviventes
nunca saberei o que espero dele
nem que juras deixa atrás dos meus passos
mas quando esses olhos se fartam de ladrilhos
e esperam entre o plano e as colinas
ou em ruas que se fecham em mais ruas
então sim me sinto um náufrago
e só o mar pode salvar-me
Tradução de Julio Luís Gehlen
e o silêncio do mar, e o de sua vida
José Hierro
O silêncio do mar
brama um juízo infinito
mais concentrado que o de um cântaro
mais implacável que duas gotas
quer aproxime o horizonte ou nos entregue
a morte azul das medusas
nossas suspeitas não o deixam
o mar escuta como um surdo
é insensível como um deus
e sobrevive aos sobreviventes
nunca saberei o que espero dele
nem que juras deixa atrás dos meus passos
mas quando esses olhos se fartam de ladrilhos
e esperam entre o plano e as colinas
ou em ruas que se fecham em mais ruas
então sim me sinto um náufrago
e só o mar pode salvar-me
Tradução de Julio Luís Gehlen
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
JÚBILO, MEMÓRIA, NOVICIADO DA PAIXÃO, de Hilda Hilst
O poeta inventa viagem, retorno, e sofre de saudade
VII
Essa lua enlutada, esse desassossego
A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo. E eram tão vastas
As coisas planejadas, navios,
Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimento sempre. E seria dezembro.
Um cavalo de jade sob as águas
Dupla transparência, fio suspenso
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos
E tudo se desfez no pórtico do tempo
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo
Também isso te devo.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
TERRITÓRIO DAS ARTES
Hoje tem lançamento da coleção MiniBUKS, de vários autores da Território das Artes Editora, e também o relançamento dos livros "Arca Profana" e "Arca de Impurezas".
Os dois últimos, estarei autografando.
Convites abaixo.
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