Barreto Poeta dedicou poema às duas poetas gaúchas. Como postei aqui poemas de Lila e de Lara, pedi ao Barreto que me enviasse seu poema, que data de 2004. Pedi também que ele escrevesse um depoimento sobre sua amizade com Lila Ripoll. Aqui estão ambos, o poema e o depoimento:
"Lila, a amiga, doce, culta e singela. De compleição pequena
e voz macia, gostosa de se
ouvir. Professora, ensaiava jogral com os alunos. Mas, labora em
equívoco quem possa pensar que essas eram características a
ocultar, quem sabe, uma tibieza feminina. Ledo engano. Antes, Lila
era uma pequena grande Mulher. Assim mesmo, grafado com M maiúsculo. Não
lembro exatamente como a conheci, tenho a vaga lembrança de ter
sido um amigo, também Poeta, Edson Salazar de Souza, que era muito seu amigo, quem nos apresentou. A
amizade veio com o tempo e passei
a usufruir da honra e do prazer intelectual, afora o prazer
afetivo e amistoso, de frequentar sua residência, em apartamento ali na
Venâncio Ayres, em Porto Alegre. Usufruir, enfim, da honra de ser seu
amigo. No seu apartamento ela costumava reunir os mais íntimos para
ouvirmos gravações de Poetas tais, como Nicolás Guillén, José Martí,
Neruda, ou o famoso discurso de Fidel, em defesa própria e de
seus ideais perante o Tribunal da ditadura de Fulgêncio. Ouvia-se a
tudo em absoluto silêncio. Depois, trocávamos ideias a respeito,
quando ela e o Edson, sobretudo, pontificavam abrindo luzes nas
nossas cabecinhas juvenis e prenhes de fantásticos ideais. Tanto ela como
o Edson tinham bastante mais idade do que a maioria de nós que
frequentávamos seu apartamento na ânsia de ouvir e aprender,
orgulhosos do exercício daquela amizade tão especial. Mas também dávamos
boas e gostosas risadas, pois Lila era uma pessoa leve e muito
alegrinha. Alto astral, como hoje se diria. A ela e ao Edson, devo a
qualificação da minha Poesia, se é que alguma qualificação
revela-se no meu trabalho com as palavras. O Edson, por visceral, radical e
impiedoso na sua crítica ao que então eu - na certeza juvenil da
encarnação de um novo Maiakóvski-
despejava em versos sobre o papel,
impunemente. E à Lila, pela doçura, não menos radical, mas
extremamente amável, a me mostrar que bem pouco
- quase nada mesmo - do
calhamaço que já havia produzido em versos, constituía-se em
verdadeira Poesia. Obrigado querido amigo e querida amiga, não é por
acaso que os intitulo de pai e mãe da minha Poesia. Saudades,
lembranças, e muita dor pela ausência eterna de ambos... "
Barreto
(Flávio BARRETO
Leite)
02 / DEZ. / 2013
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