quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Lara de Lemos e Lila Ripoll, homenageadas por Barreto Poeta!


Barreto Poeta dedicou poema às duas poetas gaúchas. Como postei aqui poemas de Lila e de Lara, pedi ao Barreto que me enviasse seu poema, que data de 2004. Pedi também que ele escrevesse um depoimento sobre sua amizade com Lila Ripoll. Aqui estão ambos, o poema e o depoimento:



"Lila, a amiga, doce, culta e singela. De compleição pequena e voz macia, gostosa de se ouvir. Professora, ensaiava jogral com os alunos.  Mas, labora em equívoco quem possa pensar que essas eram características a ocultar, quem sabe, uma tibieza feminina. Ledo engano. Antes, Lila era uma pequena grande Mulher. Assim mesmo, grafado com M maiúsculo.  Não lembro exatamente como a conheci, tenho a vaga lembrança de ter sido um amigo, também Poeta, Edson Salazar de Souza, que era muito seu amigo, quem nos apresentou. A amizade veio  com o tempo e passei a usufruir da honra e do prazer intelectual,  afora o prazer afetivo e amistoso, de frequentar sua residência, em  apartamento ali na Venâncio Ayres, em Porto Alegre. Usufruir, enfim, da honra de ser seu amigo. No seu apartamento ela costumava reunir os mais íntimos para ouvirmos gravações de Poetas tais, como Nicolás Guillén, José Martí, Neruda, ou o famoso discurso de Fidel, em  defesa própria e de seus ideais perante o Tribunal da ditadura de  Fulgêncio. Ouvia-se a tudo em absoluto silêncio. Depois, trocávamos  ideias a respeito, quando ela e o Edson, sobretudo, pontificavam  abrindo luzes nas nossas cabecinhas juvenis e prenhes de fantásticos  ideais. Tanto ela como o Edson tinham bastante mais idade do que a maioria de nós que frequentávamos seu apartamento na ânsia de ouvir e aprender, orgulhosos do exercício daquela amizade tão especial.  Mas também dávamos boas e gostosas risadas, pois Lila era uma pessoa leve e muito alegrinha. Alto astral, como hoje se diria. A ela e ao Edson, devo a qualificação da minha Poesia, se é que alguma qualificação revela-se no meu trabalho com as palavras. O Edson, por visceral, radical e impiedoso na sua crítica ao que então eu - na  certeza juvenil da encarnação  de um novo Maiakóvski- despejava em versos sobre o papel, impunemente. E à Lila, pela doçura, não menos  radical, mas extremamente amável, a me mostrar que bem pouco  - quase nada mesmo - do calhamaço que já havia produzido em versos, constituía-se em verdadeira Poesia. Obrigado querido amigo e querida amiga, não é por acaso que os intitulo de pai e mãe da minha Poesia. Saudades, lembranças, e muita dor pela ausência eterna de ambos... "
  Barreto            
  (Flávio BARRETO Leite)

  02 / DEZ. / 2013
 
 
LARA e LILA
                      ÀS DUAS POETAS,
                    LILA RIPOLL E LARA DE LEMOS
 
Lila e Lara,
Lara e Lila;
mesmo que não soubesse,
saberia.
Pois há sons de lira
em Lara,
há sons de lira
em Lila,
e aos sons de lira
Poesia.
 
Uma,
sei de dor
e amores
declarados em seus versos,
belos versos
adensados;
Outra sei de amiga,
que com o fio
delicado
da sua espada,
afiada em poesia,
cortou-me versos
rombudos,
ensinou-me a identificar
primeiro a maresia,
para só depois
perseguir o mar.
Só depois, pois,
mergulhar
inteiro
na Poesia.
E inquieta,
visionária
e verdadeira,
sentenciou
entre temerária
e materna,
como somente Lila
materna assim
seria:
Quanto a ser Poeta,
nada posso
além do alerta
para a área árida
e solitária
onde a alma sangra
sempre
a cada dia,
e onde poucas,
ou quase nenhuma gota
se faz, além de sangue,
Poesia.                                            
                                                 POA /02 - 07/NOV/04
 
 
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