Poema escrito pela celebração dos 44 anos da ACERGS (Associação dos Cegos do RGS), semana passada.
OS OLHOS DE HOMERO
A cegueira que carrego
me acompanha desde o princípio do mundo.
A bengala que sustento
uso-a para ler os hieróglifos das calçadas.
Os sons que ouço
canções,vozes, ruídos de armadas
mais numerosas que as pedras de Troia
mais numerosas que as pedras de Troia
não passam de mágicas germinações
em mundos que vocês
nem sabem que existem.
Escuto o desmoronar dos incensos
premonizo o desejo das ninfas
e descubro o pesadelo mais secreto
dos homens que fazem da visão
seu instrumento mais mortal.
Tudo que me foi sonegado pelas retinas
sinto pelo toque
recebo pela carícia.
Caminho,corpo,cruzamentos
têm delicadas cartografias.
A voz é um pavio sonoro
que me recita
as intenções da alma.
têm delicadas cartografias.
A voz é um pavio sonoro
que me recita
as intenções da alma.
Minha intuição é um vitrô gótico
e abre portas de catedrais.
É no sonho que fotografo imagens!
Guardo na pele a cicatriz
perfumada do teu olfato.
É no sonho que fotografo imagens!
Guardo na pele a cicatriz
perfumada do teu olfato.
Recebo pela correspondência dos ventos
os diálogos da meteorologia
trilhas de florestas encantadas
e a sensibilidade dos adivinhos.
Meus olhos anoiteceram cedo
e nunca houve amanhecer.
Quem guia meus passos
é um clarão:boreal
lúdico,sobrenatural...
Élvio Vargas
Meus olhos anoiteceram cedo
e nunca houve amanhecer.
Quem guia meus passos
é um clarão:boreal
lúdico,sobrenatural...
Élvio Vargas
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