terça-feira, 2 de agosto de 2011

Lara de Lemos

                                Na foto, com Mario Quintana


Quero-me inteira

Ah! Que terrível mutilação
esse ter que nos dar assim
todos os dias!

Dar-nos aos pedaços
- um pouco a um,
um pouco a outro,
sem que fique nada
de verdadeiramente nosso
em nós.

Pertencermos
aos que nos afagam por hábito,
aos que nos possuem com os olhos,
aos que nos esperam sensatos,
aos que nos amam doidos
e, afinal, aos que nos querem
como nós não somos.

Quero-me eu,
completa, autêntica, cheia de abandono
pertencendo-me sem nenhuma clemência
para com a alheia expectativa.

Eu, para dar-me ou negar-me
sem explicações, falsos pudores
ou inúteis justificativas.

Não é o melhor nem o mais fácil
o que peço.
Quero-me rir ou chorar
para viver ou morrer. Inteira.
 

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