Volto em março, mas deixo aqui um poema de Emily Dickinson, traduzido por Ivo Bender.
Invejo os mares, onde ele navega -
Invejo as rodas e os aros
Das carruagens, que o levam -
Invejo as colinas encurvadas
De sua jornada, testemunhas -
Todas as coisas podem mirar
O que me é proibido
Como o céu, que me é fechado!
Invejo os ninhos das corruíras,
Que pontuam seus distantes beirais -
Em sua vidraça, a opulenta mosca -
As tão felizes ramagens,
Que frente à sua janela
Teem permissão do estio para brincar -
O que nem os brincos de Pizarro
Poderiam me proporcionar.
Invejo a luz, que o desperta
E os sinos que soam irreverentes
E lhe dizem que, além, a meio vai o dia -
Mas que o seu meio-dia sou eu;
Interdita, porém, é minha florada
E se aniquila a minha abelha -
Para que o dia pleno não precipite
A mim e a meu anjo em noite eterna.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
SYLVIA PLATH
Eu traduzi, juntamente com o poeta Rodrigo Garcia Lopes, "Ariel", da poeta norte-americana Sylvia Plath. O livro, em edição bilíngue, saiu pela Editora Verus, em 2007.
Transcrevo, abaixo, um dos 41 poemas de "Ariel", no original e em nossa tradução.
The Rival
If the moon smiled, she would resemble you.
You leave the same impression
Of something beautiful, but annihilating.
Both of you are great light borrowers.
Her O-mouth grieves at the world; yours is unaffected,
And your first gift is making stone out of everything.
I wake to a mausoleum; you are here,
Ticking your fingers on the marble table, looking for cigarettes,
Spiteful as a woman, but not so nervous,
And dying to say something unanswerable.
The moon, too, abases her subjects,
But in the daytime she is ridiculous.
Your dissatisfactions, on the other hand,
Arrive through the mailslot with loving regularity,
White and blank, expansive as carbon monoxide.
No day is safe from news of you,
Walking about in Africa maybe, but thinking of me.
Rival
Se a lua sorrise, pareceria com você.
Você também deixa a impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são bons em roubar luz alheia.
A boca da lua se lamenta ao mundo; a sua é insensível,
E seu maior dom é fazer tudo virar pedra.
Desperto num mausoléu; você está aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Malicioso como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco para dizer algo irrespondível.
A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas insatisfações, por outro lado,
Chegam pelo correio com regularidade encantadora,
Brancas e vazias, expansivas como monóxido de carbono.
Nem um dia se passa sem notícias suas,
Passeando pela África, talvez, mas pensando em mim.
Transcrevo, abaixo, um dos 41 poemas de "Ariel", no original e em nossa tradução.
The Rival
If the moon smiled, she would resemble you.
You leave the same impression
Of something beautiful, but annihilating.
Both of you are great light borrowers.
Her O-mouth grieves at the world; yours is unaffected,
And your first gift is making stone out of everything.
I wake to a mausoleum; you are here,
Ticking your fingers on the marble table, looking for cigarettes,
Spiteful as a woman, but not so nervous,
And dying to say something unanswerable.
The moon, too, abases her subjects,
But in the daytime she is ridiculous.
Your dissatisfactions, on the other hand,
Arrive through the mailslot with loving regularity,
White and blank, expansive as carbon monoxide.
No day is safe from news of you,
Walking about in Africa maybe, but thinking of me.
Rival
Se a lua sorrise, pareceria com você.
Você também deixa a impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são bons em roubar luz alheia.
A boca da lua se lamenta ao mundo; a sua é insensível,
E seu maior dom é fazer tudo virar pedra.
Desperto num mausoléu; você está aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Malicioso como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco para dizer algo irrespondível.
A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas insatisfações, por outro lado,
Chegam pelo correio com regularidade encantadora,
Brancas e vazias, expansivas como monóxido de carbono.
Nem um dia se passa sem notícias suas,
Passeando pela África, talvez, mas pensando em mim.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
JULIANA MEIRA
A poeta Juliana Meira lançou em 2009, pela Editora Porto Poesia, o livro "Poema dilema".
Um dos poemas, diz assim:
no papel a mão desenha letras
esculpe palavras qual o artista
a madeira entalha
abrevia
acentua
recua
grafia cíclica
alegoria que a cabeça fabrica
domingo, 7 de fevereiro de 2010
OTÁVIO SEGALA
Na 4ª edição do SARAU LITERÁRIO ZONA SUL, em que Paulo Roberto do Carmo foi o poeta convidado, o músico gaúcho Otávio Segala ficou encarregado de fazer um pocket show. Resultado: sucesso total! Segala apresentou, acompanhado de seu violão, composições do CD "Mokambo", que, aliás, ele estava lançando com show, naquela época. Isso foi outubro de 2008.
Em 2009, Otávio Segala mudou-se para o Rio. Deve estar aprontando muita arte (musical) por lá!
Em 2009, Otávio Segala mudou-se para o Rio. Deve estar aprontando muita arte (musical) por lá!
A POESIA DE PAULO ROBERTO DO CARMO
O poeta portoalegrense Paulo Roberto do Carmo possui vários livros publicados, e traz em seu currículo o Prêmio Nacional de Poesia Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional, (2000).
No livro "50 POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR", de 2006, Edições Galo Branco, é o próprio poeta quem explica: "Escrevo porque não posso esconder o sol dentro da alma, nem a palavra calada. Escrevo porque entre o homem que colhe e o que semeia, há um homem que sonha o peixe, o pão, o vinho, os alimentos coletivos da alegria, da liberdade, da justiça, a arte de tornar-se humano mudando não apenas a aldeia, mas a mim mesmo. Essa obsessão de libertar a alegria que se aprisiona dentro das palavras, é para aprender a exumar-me de minhas cotidianas mortes".
Do Carmo também foi convidado do SARAU LITERÁRIO ZONA SUL. Abaixo, um dos poemas do livro já citado:
REVOLUÇÃO
As bocas amordaçadas
não estão caladas.
A consciência
não está domada.
Os ventres famintos
ainda estão fecundos.
A esperança ferida
sangra no coração.
A revolução que há de vir
cristalizada no ar
já não tem ouvidos
apenas garras
e armas azeitadas
de baionetas ensarilhadas
no peito aberto em dor.
O próximo , recebi do poeta em meu aniversário:
QUEM
Quem há de regar as flores
sobre a infância de um tempo perdido?
Quem há de exumar do passado
a memória de um amor ainda vivo?
Quem há de culpar o mar
pelo naufrágio dum navio carregado de sonhos?
Quem há de cumprir o seu destino,
à caça de seus próprios animais, feridos pelo desejo?
Quem há de simular diante de todos que é alguém,
sem revelar à sua vaidade que é ninguém?
Quem, diante dos miseráveis, há de provar
pelos fazeres que sonhou o sonho de todos, e cumpriu?
E, pra terminar, quero reproduzir aqui as palavras de Walmir Ayala, sobre a poesia de Paulo Roberto do Carmo:
(...) "PRC é um impressionista francês mesclado a um trovador medieval. Parece que ele está cavalgando com uma bandeira de vitória na mão. (...) Gosto da vitalidade de sua poesia, do denodo (...)".
Lindo isso, não?
No livro "50 POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR", de 2006, Edições Galo Branco, é o próprio poeta quem explica: "Escrevo porque não posso esconder o sol dentro da alma, nem a palavra calada. Escrevo porque entre o homem que colhe e o que semeia, há um homem que sonha o peixe, o pão, o vinho, os alimentos coletivos da alegria, da liberdade, da justiça, a arte de tornar-se humano mudando não apenas a aldeia, mas a mim mesmo. Essa obsessão de libertar a alegria que se aprisiona dentro das palavras, é para aprender a exumar-me de minhas cotidianas mortes".
Do Carmo também foi convidado do SARAU LITERÁRIO ZONA SUL. Abaixo, um dos poemas do livro já citado:
REVOLUÇÃO
As bocas amordaçadas
não estão caladas.
A consciência
não está domada.
Os ventres famintos
ainda estão fecundos.
A esperança ferida
sangra no coração.
A revolução que há de vir
cristalizada no ar
já não tem ouvidos
apenas garras
e armas azeitadas
de baionetas ensarilhadas
no peito aberto em dor.
O próximo , recebi do poeta em meu aniversário:
QUEM
Quem há de regar as flores
sobre a infância de um tempo perdido?
Quem há de exumar do passado
a memória de um amor ainda vivo?
Quem há de culpar o mar
pelo naufrágio dum navio carregado de sonhos?
Quem há de cumprir o seu destino,
à caça de seus próprios animais, feridos pelo desejo?
Quem há de simular diante de todos que é alguém,
sem revelar à sua vaidade que é ninguém?
Quem, diante dos miseráveis, há de provar
pelos fazeres que sonhou o sonho de todos, e cumpriu?
E, pra terminar, quero reproduzir aqui as palavras de Walmir Ayala, sobre a poesia de Paulo Roberto do Carmo:
(...) "PRC é um impressionista francês mesclado a um trovador medieval. Parece que ele está cavalgando com uma bandeira de vitória na mão. (...) Gosto da vitalidade de sua poesia, do denodo (...)".
Lindo isso, não?
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
LEMBRANDO DRUMMOND
De "Brejo das almas", o poema
SEGREDO
A POESIA é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
SEGREDO
A POESIA é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
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