quarta-feira, 5 de março de 2014

Mário de Andrade


Soneto
(Dezembro de 1937)

Aceitarás o amor como eu o encaro?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de milhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza...A evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

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