quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Elegia à Lesma", do poeta gaúcho Carlos Saldanha Legendre. (Editora Movimento, 2011).

II - NASCIMENTO

No começo
um só ponto
luminoso
no quintal.

Mal e mal
se percebe
o que gera
sobre a argila.

O olhar
busca o grão
que cintila
sobre o chão.

Tênue gota
vacilante
desse orvalho
que se anima

e desdobra
fecundado
como um óvulo
sideral

 e veloz
multiplica-se
como espiga
sob o sol.

Do conúbio
dessas bolhas
eriçadas
em espasmos,

- doce orgasmo
das estrelas!,
brota a vida
em espuma.

Um vagido
já se escuta
como canto
dentre a bruma.

Não há sangue
não há ossos
nem fraturas
nem destroços.

Por ser lesma
é nascida
de si mesma,
com origem

primordial.
É tão virgem
como a cal
se expandindo

em bandeja
mineral.
Fogo-fátuo,
luz real

que rasteja
vida afora,
repelida.
Mas é vida!



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