sábado, 3 de setembro de 2011
Mario Vargas Llosa
No livro Elogio da Madrasta, o personagem dom Rigoberto antecipa os prazeres do encontro amoroso com Lucrecia, sua esposa:
"Enquanto enrolava umas bolinhas de algodão na ponta de um grampo e as umedecia com água e sabão para limpar a cera acumulada no interior do ouvido, antecipou o que aqueles limpos funis ouviriam dentro de pouco, descendo dos seios para o umbigo da sua esposa. Ali não precisariam de esforço para surpreender a música secreta de Lucrecia, pois uma verdadeira sinfonia de sons líquidos e sólidos, prolongados e breves, difusos e nítidos, viria revelar-lhe a sua vida soterrada. Antecipou com gratidão como se emocionaria ao captar, através desses órgãos que agora escarvava com minucioso afeto, desembaraçando-os da película oleosa que periodicamente se formava neles, algo da existência secreta do seu corpo: glândulas, músculos, vasos sanguíneos,folículos, membranas, tecidos, filamentos, tubos, trompas, toda essa rica e sutil orografia biológica que jazia sob a tersa epiderme do abdômen de Lucrecia. "Amo tudo o que existe dentro ou fora dela", pensou. "Porque tudo nela é ou pode ser erógeno." "
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