sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Manoel de Barros!


RETRATO QUASE APAGADO EM QUE SE PODE VER
PERFEITAMENTE NADA

II

Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.


V

Escrever nem uma coisa
Nem outra -
A fim de dizer todas -
Ou, pelo menos, nenhumas.

Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.


VI

No que o homem se torne coisal - corrompem-se nele
     os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana, que
     empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um
     inauguramento de falas.
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sylvia Plath


Os mensageiros

Palavra de lesma em prato de folha?
Não é minha. Não a aceite.

Ácido acético em lata selada?
Não o aceite. Não é genuíno.

Anel de ouro e nele o sol?
Mentiras. Mentiras e uma dor.

Geada numa folha, o imaculado
Caldeirão, estalando e falando

Sozinho no topo de cada um
Dos nove Alpes negros,

Um distúrbio nos espelhos,
O mar estilhaçando seu cinza -

Amor, amor, minha estação. 

  
               ("Ariel", Verus Editora, 2007 - Tradução minha e de Rodrigo Garcia Lopes)


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Manoel de Barros!


O PULO

Estrela foi se arrastando no chão deu no sapo
sapo ficou teso de flor!
e pulou o silêncio


SERVIÇOS

Catar um por um os espinhos da água
restaurar nos homens uma telha de menos
respeitar e amar o puro traste em flor