quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Florbela Espanca (1894-1930)
Dize-me, Amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.
Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito.
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!
Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem ternura,
Agonia sem fé dum moribundo,
Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, Amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha!
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Élvio Vargas!
Amanhã, 27 de agosto, acontece mais um encontro pelo projeto "O Autor e o Livro", da Academia Rio-Grandense de Letras. Trata-se do livro ESTAÇÕES DE VIGÍLIA E SONHO - Poesia Reunida com Inéditos - (Editora Gazeta, Santa Cruz do Sul, 2012), de autoria do poeta Élvio Vargas. Debatendo com o próprio Élvio estarão Daniela Damaris Neu e José Edil de L. Alves.
No Palácio da Justiça, 6º andar, às 17hs.
A capa do livro |
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Vladímir Maiakóvski (1893-1930)
O poeta russo Maiakóvski |
ESCÁRNIOS
Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes,
entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas
esses
que sob a árvore nutriz es
cavam com seus focinhos as raízes.
(tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)
Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.
(tradução de Augusto de Campos)
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Hilda Hilst (1930-2004)
Em POEMAS AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO,
V
homenagem a Alexei Sakarov
de cima do palanque
de cima da alta poltrona estofada
de cima da rampa
olhar de cima
LÍDERES, o povo
Não é paisagem
Nem mansa geografia
Para a voragem
Do vosso olho.
POVO. POLVO.
UM DIA.
O povo não é o rio
De mínimas águas
Sempre iguais.
Mais fundo, mais além
E por onde navegais
Uma nova cançlão
De um novo mundo.
E sem sorrir
Vos digo:
O povo não é
Esse pretenso ovo
Que fingis alisar,
Essa superfície
Que jamais castiga
Vossos dedos furtivos.
POVO. POLVO.
LÚCIDA VIGÍLIA.
UM DIA.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Carlos Drummond de Andrade
Poema do livro O AMOR NATURAL,
À meia-noite, pelo telefone,
conta-me que é fulva a mata do seu púbis.
Outras notícias
do corpo não quer dar, nem de seus gostos.
Fecha-se em copas:
"Se você não vem depressa até aqui
nem eu posso correr à sua casa,
que seria de mim até o amanhecer?"
Concordo, calo-me.
sábado, 10 de agosto de 2013
Dia dos Pais!
Poema de Luiz Coronel em homenagem aos pais,
Pai,
Vem comigo à praia
ajuda a prancha a levar.
Estou de pé sobre as ondas,
domando as ondas do mar.
Pai, vem comigo à montanha.
Do topo da claridade
eu me atiro de asa delta
voando sobre a cidade.
Se te sentires cansado
dessa longa excursão
eu te carrego no colo
enquanto beijo tua mão.
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Marina Tsvetáieva (1892-1941)
Do livro INDÍCIOS FLUTUANTES, (Martins Fontes, 2006), tradução de Aurora F. Bernardini,
"Agosto - astros"
Agosto - astros,
Agosto - estrelas,
Agosto - cachos
De uva e sorva
Tosco - agosto!
Socadinho, bem-amado
Qual criança e sua maçã,
Imperial, brincas, agosto.
Com teu nome imperial
Alisas, palma, o coração:
Agosto! - Coração!
Mês dos últimos beijos,
Dos últimos raios, das últimas rosas!
Dos dilúvios de estrelas -
Agosto! - Mês
Dos dilúvios de estrelas!
7 de fevereiro de 1917
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