segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Será amanhã, dia 31, a 19ª edição do SARAU LITERÁRIO ZONA SUL.

Abaixo, poemas de Ronald Augusto, meu convidado desta edição. Um aperitivo do sarau!

Outro poema de RONALD AUGUSTO, do livro "Confissões Aplicadas".

Pesadelo da História

para o mundo não pisar às avessas
o negro que sou inclusive em alma
a custo forçaram a ver navios

apartando-o da selvagem terra
dos inimigos e dos seus de palma
não há como não tosar-lhe o pavio
daí para que tento e estética
troque ele como quem troca casaca
será nada e bom ao senhorio

mau negócio senhor via diversa
(na regra novos fatos) fui com calma
até onde marra bem alto o rio
tornei com dentes mais alvos de serra
talo de arruda na orelha macaca
agora a goela do teu sonho trincho


envoi
 
pois muitos dormem temendo o escuro
crucifixo ao colo quase absurdo
os que ainda acordam vivos dão graças
semtem-se pagados a flor da raça

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

RONALD AUGUSTO

Do livro "No assoalho duro", um dos poemas que Ronald e eu leremos no sarau do dia 31.

8. sonhei comigo sonho sob pórticos
de luz tropical claridade verde
que eu julgava ser o espelho onde esta
face (agora inclinada sobre linhas
toscas de recordação puramente
imaginária) espelho onde esta face
pudesse mirar-se com minuciosa veracidade

sonho de vaidade vácua
que paraíso guardará a menor semelhança
que seja com a cara inexistente que
às vezes afivelo sobre a face para
melhor me desvelar?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

SARAU LITERÁRIO ZONA SUL - CONVITE




Espero vocês no Iaiá Bistrô, dia 31/08, às 19:30hs.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Poema II de "Tristes cantigas de amor", de ANTONIO BOTO

O BRINCO DA TUA ORELHA

O brinco da tua orelha
sempre se vai maneando;
gostava de dar um beijo
onde o teu brinco os vai dando.
Tem um topázio doirado
esse brinco de platina;
um rubi muito encarnado
e uma outra pedra fina.
O que eu sofro quando o vejo
sempre airoso meneando!
Dava tudo por um beijo
onde o teu brinco os vai dando.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De Sandra Santos,

Rubro em rosa
 
O beijo da morte
na tua saliva

A lágrima de sangue
do vinho bebido, ainda

A última rosa
a que restou seca
Um parto de dor
a tua partida

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MURILO MENDES

Estudo para uma ondina

Esta manhã o mar acumula ao teu pé rosas de areia,
Balançando as conchas de teus quadris.
Ele te chama para as longas navegações:
Tua boca, tuas pernas teu sexo teus olhos escutaram.

Só teus ouvidos é que não escutaram, ondina.
Minha mão lúcida sacode a floresta do teu maiô.
Ao longe ouço a trompa da caçada às sereias
E um peixe vermelho faz todo o oceano tremer.

Tens quinze anos porque já tens vinte e sete,
Tens um ano apenas...
Agora mesmo nasceste da espuma,
E na incisão do ar líquido alcanças o amor dos elementos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

PORNOPOPPOCKET, de Paula Taitelbaum

Não me olha desse jeito
nervoso verdoso inverossímil
eu posso virar um míssil
e acertar você em cheio
cuidado
com o recheio
você não sabe que
minha pele é explosiva
meus fluidos são corrosivos
e que sou tão incandescente
que numa troca
de olhares
fodo até
com a sua mente.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SARAU NO NINHO

O sarau no ninho dos Á.G.U.I.A.S. (Amigos Unidos Incentivando as Artes), no último sábado, dia 14, esteve muito bom, apesar da noite gelada, que impediu muita gente de comparecer.
Barreto Poeta, Renato de Mattos Motta (coordenador do sarau) e eu, lemos muita poesia, desde poemas de nossa autoria, até os poetas uruguaios Mario Benedetti e Eduardo Galeano, passando pelos nossos Mario Quintana, Oliveira Silveira, Alexandre Brito, Paulo Hecker Filho e, ainda, Paulo Leminski, Hilda Hilst, etc.

Roberto Jung e Carmelina Castro comandam a casa da Dr. Valle (aliás, os dois também leram poemas), aberta a saraus literários e musicais, exposição de arte, e diferentes e variadas manifestações culturais. Já somos mais de 800 associados. Vida longa aos Á.G.U.I.A.S.!!!

MANOEL DE BARROS

Eras

Antes a gente falava: faz de conta que este sapo é pedra.
E o sapo eras.
Faz de conta que o menino é um tatu.
A gente agora parou de fazer comunhão de pessoas com bicho,
de entes com coisa.
A gente hoje faz imagens.
Tipo assim:
Encostado na porta da tarde
Estava um caramujo.
Estavas um caramujo - disse o menino.
Porque a tarde é oca e não pode ter porta.
A porta eras.

Então é tudo faz de conta como antes?

sábado, 14 de agosto de 2010

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO, de Hilda Hilst

X

Não é apenas um vago, modulado sentimento
O que me faz cantar enormemente
A memória de nós. É mais. É como um sopro
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso
É como se a despedida se fizesse o gozo
De saber
Que há no teu todo e no meu, um espaço
Oloroso, onde não vive o adeus.

Não é apenas vaidade de querer
Que aos cinquenta
Tua alma e teu corpo se enterneçam
Da graça, da justeza do poema. É mais.
E porisso perdoa todo esse amor de mim

E me perdoa de ti a indiferença.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO, de Hilda Hilst

VIII

De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura

Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.

Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me deem

A enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando

- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO, de Hilda Hilst

VI

Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso.
Distanciado
Dos teus livros políticos?
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Tu sorris quando lês
Ou te cansas de ver
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?

Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?

sábado, 7 de agosto de 2010

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO, de Hilda Hilst

IV

Minha medida? Amor.
E tua boca na minha
Imerecida.

Minha vergonha? O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha.

Meu chamamento? Sagitário
Ao meu lado
Enlaçado ao Touro.

Minha riqueza? Procura
Obstinada, tua presença
Em tudo: julho, agosto
Zodíaco antevisto, página

Ilustrada de revista
Editorial, jornal
Teia cindida.

Em cada canto da Casa
Evidência veemente
Do teu rosto.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO, de Hilda Hilst

II

Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora

Há tanto tempo sua própria tessitura.

Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Oficina de escrita criativa com VALESCA DE ASSIS

JANELA SOBRE UMA MULHER I, de EDUARDO GALEANO.


Essa mulher é uma casa secreta.
Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça.
Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia.
Nessa casa serei habitado.
Nela me espera o vinho que me beberá.
Muito suavemente bato à porta, e espero.

domingo, 1 de agosto de 2010

VII JORNADA CYRO MARTINS

Vejam o site www.celpcyro.org.br para mais informações sobre a jornada. O tema é TRANSTORNO MENTAL E SEXUALIDADE,  e vai acontecer nos dias 13 e 14 de agosto, no Novotel Porto Alegre.

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