segunda-feira, 21 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO (1922-2010)

Em "Cadernos de Lanzarote", no Diário ll, 1994, Saramago diz o seguinte, sobre a publicação dos "Cadernos...":

9 de Janeiro

          Assim são as coisas. Gabei-me aqui de não ter gasto muito tempo a dissuadir o Zeferino Coelho da sua vontade de levar os Cadernos para os publicar já, e afinal o José Manuel Mendes levou ainda menos a convencer-me do contrário. Usou de um argumento para o qual não encontrei resposta: que as minhas dúvidas e hesitações quanto à oportunidade da publicação não seriam aclaradas nem resolvidas pelo tempo, uma vez que o livro continuaria a ser, nesse e em todos os futuros, aquilo que é hoje: um comentário sem preconceitos sobre casos e gente, o discorrer de alguém que quer deitar a mão ao tempo que passa, como se dissesse: "Não vás tão depressa, deixa um sinal de ti." Compreendi que a relutância provinha só de um temor não confessado a enfrentar-me com reacções suscitadas por referências feitas nestas páginas a pessoas e procedimentos. Na verdade, ainda tenho muito que aprender com os escritores de barba dura, a quem nada faz recuar, como Vergílio Ferreira...

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