sexta-feira, 11 de junho de 2010

CARLITO AZEVEDO

A uma passante pós-baudelairiana

Sobre esta pele branca
um calígrafo oriental
teria gravado
sua escrita luminosa
- sem esquecer entanto
a boca: um ícone em rubro
tornando mais fogo
o céu de outubro

tornando mais água
a minha sede
sede de dilúvio -

Talvez este poeta afogado
nas ondas de algum danúbio imaginário
dissesse que seus olhos são
duas machadinhas de jade
escavando o constelário noturno
(a partir do que comporia
duzentas odes cromáticas)

mas eu que venero mais que o ouro-verde raríssimo
o marfim em alta-alvura
de teu andar em desmesura sobre
uma passarela de relâmpagos súbitos
sei que tua pele pálida de papel
pede palavras de luz

Algum mozárabe ou andaluz decerto
te dedicaria um concerto
para guitarras mouriscas e
cimitarras suicidas

Mas eu te dedico quando passas
me fazendo fremir

(entre tantos circunstantes, raptores fugidios)

este tiroteio de silêncios
esta salva de arrepios.

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