sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Manoel de Barros!


RETRATO QUASE APAGADO EM QUE SE PODE VER
PERFEITAMENTE NADA

II

Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.


V

Escrever nem uma coisa
Nem outra -
A fim de dizer todas -
Ou, pelo menos, nenhumas.

Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.


VI

No que o homem se torne coisal - corrompem-se nele
     os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana, que
     empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um
     inauguramento de falas.
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

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