sábado, 23 de julho de 2011

HILDA HILST, do livro "Alcoólicas", 1990.


                                     
                                    V


Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo

                      Fomes
                      País
                      O riso solto
                      A dentadura etérea
                      Bola
                      Miséria.

Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Ama-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.

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